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A hipócrita a favor da guerra as drogas


A Hipócrita a favor da guerra contra as drogas

O argumento começava por ter nascido em local de favelas, que são – como a maioria das comunidades do cidade do Rio, controladas por narcotraficantes -, e que meio ao som da troca de tiros, a ‘Hipócrita a favor da guerra às drogas’ refirmava ter perdido vários amigos, seja para o consumo de drogas, seja nos tiroteios entre bandidos - sejam eles com ou sem farda, como a mesma dizia. Ela era sempre contundentemente a favor do proibicionismo o que, obviamente, favorecia este círculo vicioso de violência e dinheiro. Já que vimos isso antes na história, a criminalização do porte de droga para consumo próprio como na Lei Seca nos Estados Unidos, somente ajudou a estruturar as violentas máfias... bisavós de nossas milícias cariocas.

Batendo no peito por ser a única pessoa de sua família a concluir o curso superior, e até mesmo a exclusividade de fazer o mestrado, tudo pago com dinheiro público em universidade de renome e respeitada. A ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ se dizia entendedora do assunto e utilizou as dinâmicas sociais desta falsa guerra para basear suas teses acadêmicas.

Mas relevante destacar que mesmo nesta época, nem tudo era tão visto por ela de maneira tão maniqueísta. Na sua casa, por exemplo, alguns itens foram comprados de cargas que foram roubadas pelos traficantes da região. Ela afirmava que era legítimo, pois se tornava uma forma expropriação do grande capital (referencia muito usada pelas esquerdas na qual se dizia parte). Então dentro dos seus ensinamentos e princípios sociológicos, era legítimo que os excluídos fossem lá, expropriassem os capitalistas e vendessem por valores mais justos as cargas roubadas nas estações de Metro da região. Não havia problema de vez em quando comprar uma TV, ou outro bem, vindo da mão dos bandidos que haviam assaltado os motoristas trabalhadores dos empresários que utilizavam a região para a logística de seus produtos.

Contundentemente ela também xingava de marginais os policiais do Batalhão que cobria a área por utilizarem o ‘Caveirão’, o veículo blindado da corporação, não para se proteger das balas dos fuzis (muitos vendidos pelos próprios policiais aos bandidos de quadrilhas rivais), mas para extorquir os traficantes quando o arrego não estava condizente com a avidez financeira dos "meganhas", como periodicamente ela se referenciava aos policiais militares.

Destaca-se também que toda critica e maldizer eram destinado para as pessoas que iam para o bairro a fim de consumir a substância ilícita, as que sustentavam a bandidagem e pagavam as balas que matavam crianças, moradores, trabalhadores e até os agentes de segurança, sócios do negócio do crime.

Mas um dia a ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ foi trabalhar em uma prefeitura de um ex-namorado. O mesmo tinha sido recém-eleito baseado nas bandeiras da moral, da ética e dos princípios revolucionários de esquerda para o combate à corrupção. Mas, assim que o grupo tomou o poder da pequena cidade, organizou um esquema de varejo de extorsão para se levantar dinheiro, seja de onde for. Afinal, tinha que se pagar as dívidas de campanha e ninguém ali era naquela época muito hábil, ou competente - como a própria sempre dizia -, para estruturar grandes esquemas de subtração do dinheiro público. Assim o primeiro passo foi acertar com comandante da companhia de polícia da região e juntamente com alguns secretários da prefeitura, do setor de postura até de segurança, montar um atrapalhado esquema para pegar dinheiro de comerciantes, pequenos empresários, camelos, prostíbulos, caça niqueis e bocas de fumo.

A ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ achou aquilo um ato legítimo e justificável, pois se tinha que pagar as dívidas. Aquelas pessoas só estavam hoje empregadas devido ao empenho do prefeito revolucionário. Logo, integrantes, inclusive da segurança pessoal do alcaide, passaram a ser semanalmente vistos transitando pela cidade com mochilas nas costas, apoiados por integrantes dos trabalhadores de segurança do Estado, além da guarda local, indo em locais de atividades ilícitas, como venda de drogas, caça niqueis e prostíbulos para pegarem a sua ‘merenda’. Como a ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ passou a ter uma relação amorosa com um dos que, outrora chamava de meganhas, era o comandante que operavam o esquema. Assumiu também o mesmo entendimento e linguajar destes, inclusive falando que na cidade o “lance” (extorsão) era tão bom que ia a ‘velocidade 10 do Créu’ (em referência ao Funk do sucesso na época).

Sem nenhum pudor e critério utilizava de qualquer telefone para mandar mensagens e trocar declarações românticas com o policial bandido que comandava, pelo lado da segurança do Estado, o esquema do dinheiro da extorsão. Passou também a achar engraçado que o irmão do alcaide, usuário contumaz de cocaína, em meio ao expediente diário, ostentasse pilhas do pó branco sobre as mesas do poder público como demonstração de poder. Mudou de opinião e passou a aproveitar das várias festas bancadas pelo dinheiro oriundo deste negócio nefasto.

Mas como os marginais em geral não tem qualquer tipo de ética, o representante do Estado da área de segurança pública que comandava o esquema resolveu dar uma volta nos seus subordinados e superiores quando - de maneira inédita para aquela região até então - conseguiu aprender um fuzil. Cumprindo o princípio "constitucional e democrático das polícias", rapidamente negociou a peça com outro grupo de traficantes. Com a venda e volta nos colegas, aproveitou o lucro para fazer um cruzeiro com a sua esposa, mas sem deixar de manter o conato com a namorada e os comparsas que continuavam a captar o varejo da “merenda”, a taxa “do eu sei e finjo que não vejo”.

A questão acabou chagando a DPJM- Delegacia de Polícia Judiciária Militar. Por causa da volta que o policial bandido deu nos colegas. Entretanto, a questão virou mais um daqueles processos cheios de “CONSTA QUE” das instituições judiciais militares de segurança do Estado do Rio de Janeiro. Logo, o assunto, depois de morreu na praia – como uma Juíza da região - quando se chegou a um consenso financeiro apesar da farta quantidade de provas envolvendo várias pessoas que se associaram ao tráfico o que é tipificado no código penal.

Esta estória é tão absurda que só pode ser fruto de nossa imaginação. Mas é só uma referência de quanto as pessoas podem ser são hipócritas quando o assunto é enfrentar o problema social das drogas e toda estrutura de corrupção que ela sustenta.

Para finalizar a estória fruto de muita imaginação, o irmão do prefeito morreu de “meningite Colombiana”, o policial bandido continua em sua carreira promissora dentro da polícia carioca. Já a ‘hipócrita favorável à guerra contra as drogas’ vive feliz na cidade que virou uma referência da corrupção do país. Ostenta seu padrão de vida roubando recursos de programas sociais que são destinados à população mais pobre.

Já esta cidade fictícia, mesmo com mais de 1 bilhão de reais por ano para serem usados em favor dos pouco mais de 100 mil habitantes, ainda tem quase toda a sua população tomando banho de água com as próprias fezes, pois as fossas sanitárias muitas vezes contaminam os poços artesanais e artesianos no qual a população foi obrigada a fazer pois não existe nem água e esgoto em mais de 93% da maioria da cidade.

Esta história fictícia mostra como a gigantesca máquina de destruir vidas, apoiada pelos moralistas "hipócritas a favor da guerra contra as drogas", se retroalimenta. A provocação deste texto foi a morte de mais um jovem na Baixada, em Japeri. Tudo indica que a operação da polícia militar matou mais um "negro, pobre e morador de bairros carentes "por engano". A semana só começando e até o final dela essa falsa guerra deixará mais mortos, de todos os lados, também do lado das polícias, as mesmas que mataram hoje.

Cabe quem se dispõem a ter coragem de enfrentar a guerra contra as drogas e assumir posições a fim de forçar que o assunto seja debatido abertamente, de maneira séria e com busca por soluções.

- Adriano Dias é Fundador da ComCausa

| Originalmente escrito dia 23 e publicado 24 de outubro de 2017 no Jornal de Hoje

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