![Chacina da Via Show](https://static.wixstatic.com/media/a6a1fb_14a2a1a02fcd4976bb5c0c357a4571c8~mv2.jpeg/v1/fill/w_980,h_578,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/a6a1fb_14a2a1a02fcd4976bb5c0c357a4571c8~mv2.jpeg)
As mães das vítimas seguem suas vidas fazendo ações contra a violência a jovens | Foto: ComCausa
Era para ser apenas uma noite de diversão naquele dia 6 de dezembro de 2003 para os amigos Geraldo Sant’Anna de Azevedo Júnior, de 21 anos; Renan Medina, de 13 anos; e os irmães Bruno Muniz Paulino, de 20 anos e Rafael Paulino, de 18 anos, moradores do bairro Jardim Santo Antônio, em Guadalupe. Naquela noite, os quatro jovens foram vítimas de um crime bárbaro na Baixada Fluminense: A Chacina da Via Show.
O jovens foram para ir a casa noturna Via Show, em São João de Meriti. Ao retornarem para casa, por volta de 4h40 da manhã, encontram outro amigo: Wallace Lima. Ele e os quatro rapazes conversam um pouco e logo em seguida se despedem. Essa foi a última conversa daqueles jovens, três dias depois, no dia 9 de dezembro, foram encontrados mortos com requintes de crueldade e completamente irreconhecíveis com tiros de fuzil em um local chamado Fazenda Morabi, em Imbariê.
Desde então, Siley Muniz Paulino, mãe de Bruno, e sua concunhada, Elizabeth Medina Paulino, mãe de Rafael e Renan, iniciaram uma árdua batalha por justiça. Mas os anos se passaram e, em dezembro de 2008, dois dos acusados, os policiais militares Paulo César Manoel da Conceição e Eduardo Neves dos Santos, foram soltos por decisão da 6ª Câmara Criminal, segundo a qual os PMs "estavam sendo constrangidos na prisão".
![](https://static.wixstatic.com/media/985785_ada99e5641704a29ab5a7f409529532b~mv2_d_1600_1200_s_2.jpg/v1/fill/w_980,h_735,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/985785_ada99e5641704a29ab5a7f409529532b~mv2_d_1600_1200_s_2.jpg)
O caso que ganhou uma grande repercussão da imprensa na época completa 16 anos este mês. Dos policiais militares acusados de estarem envolvidos na morte das vítimas, quatro já foram condenados, um já foi morto e o outro foi internado diagnosticado com doenças mentais. Porém, o único oficial suspeito sequer foi julgado e continua integrando a corporação da PM. Ronaldo Paulo Aves Dias sequer chegou a ir ao júri popular e foi considerado impronunciável.
Veja o depoimento dos familiares no documentário Luto Como Mãe, do Cinemanosso.
Para os familiares, o que resta é a saudade, tristeza e uma lacuna que jamais será preenchida. O vazio de perder um filho é uma ferida que, para as mães, nunca irá cicatrizar.
“Bruno queria ser policial civil. Ele estava se preparando fazer concurso público para começar a seguir a carreira”, Siley Muniz Paulino, mãe de uma das vítimas.
Relembre o caso
Tudo teria começado na madrugada do dia 5 de dezembro de 2003. Os policiais militares que faziam segurança na casa de show, ainda no estacionamento, porque o soldado PM Henrique, que era chefe de segurança dos camarotes da casa noturna, imaginou que Geraldo estivesse tentando furtar seu carro, um Kadett vermelho. Pouco depois, Rafael, Renan e Bruno Muniz foram até o estacionamento da Via Show para saber o que estava acontecendo e acabaram sendo capturados e agredidos pelos policias militares. Um amigo do grupo chegou a ver a agressão.
Os PMs Henrique e Fábio contataram o capitão Ronald – no momento, em serviço como oficial supervisor do 15º BPM – que, na companhia de seu motorista, Vagner, participaram das agressões e posterior morte dos rapazes. Estes foram conduzidos, posteriormente, em três veículos, sob ameaças com armas de fogo, para uma fazenda abandonada conhecida como “Parada Morambi”, em Duque de Caxias, onde foram executados.
Também foram convocados por Ronald para “dar uma ajuda” os policiais que estavam de serviço em um DPO de Parada Angélica, Gilberto e Luiz Carlos, acompanhando a caravana que conduzia as vítimas para o local de execução, nada fazendo para evitar a consumação do homicídio, suas condutas foram consideradas como “omissão penalmente relevante”.
Em julho de 2004, o Ministério Público ofereceu denúncia que foi recebida pelo juízo da 4ª Vara Criminal de Duque de Caxias, em 17 de agosto do mesmo ano, em face de Ronald Paulo Alves Pereira, então capitão PM, em serviço no momento do fato como oficial supervisor do 15º BPM; Gilberto Ferreira de Paiva, soldado PM, em serviço no DPO de Parada Angélica – teve extinta sua punibilidade por morte; Luiz Carlos de Almeida, soldado PM, em serviço no DPO de Parada Angélica; Vagner Luís Victorino, soldado PM, em serviço, dirigiu a viatura do oficial supervisor; Henrique Vitor de Oliveira Vieira, soldado PM, chefe de segurança dos camarotes da casa; Fábio de Guimarães Vasconcelos, soldado PM, chefe de revista; Paulo César Manoel da Conceição, soldado PM; e Eduardo Neves dos Santos, soldado PM.
Os jugamentos se arrastam nos tribunais e com estratégia recursais, até hoje os autores não responderam pelos quatro assassinatos. O processo corre na 4ª Vara Criminal de Duque de Caxias.
Escritório do crime
No início de 2019, o major PM Ronald Paulo Alves Pereira foi preso por envolvimento com a milícia de Rio das Pedras, ligado ao chamado “escritório do crime”. Segundo a promotora Simone Sibilio, Coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), o major Ronald exercia liderança na organização criminosa, valendo-se de sua condição privilegiada de policial da ativa. Ronald chegou a ser homenageado na ALERJ, pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro, pouco depois da chacina.
Ronald chegou a ser denunciado pelos homicídios, mas o processo contra ele foi suspenso pelo Tribunal de Justiça do Rio. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a reabertura do processo em 2018, e a sessão em que.
— No último julgamento, os PMs que mataram o meu filho foram condenados, mas como era em primeira instância, eles recorreram e estão soltos. Como pode? Meu filho, os primos e o amigo apanharam muito no estacionamento da Via Show. Os corpos foram encontrados na rodovia Washington Luís sem nenhum dente na boca, com sinais claros de execução. No local onde encontraram os corpos, tinham várias ossadas de outras pessoas. Se não fosse por uma denúncia anônima, até hoje nós não teríamos encontrado nossos filhos — afirmaram os familiares das vítimas.
Comentarios