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Como nossos pais uma crônica de Miguel


“... Quero lhe contar como eu vivi / E tudo o que aconteceu comigo / Viver é melhor que sonhar...” Como nossos pais era a música que eu ouvia tranquilamente, quando um velho amigo professor entrava, como um foguete, pela porta da minha sala. Ele tentava se proteger da tempestade que por pouco não o pegou pelo caminho. O espertinho trazia embaixo da blusa um artigo sobre a ditadura. – Não molhou. Visita boa não tem hora. Café, bolinho de chuva, vinil e um bom papo. Não importava o dilúvio, porque certamente nós salvaríamos à tarde. – Na voz da Elis é bem melhor. – comentou. Concordei literalmente e disse que aquela canção significava muito para mim, pois quando comecei a entender meu pai, Deus achou melhor lhe dar um ministério. Não tive tempo de dizer que o amava. Aliás, por que a gente nunca fala o que sente e quando resolve... já foi!? Mas não foi apenas por isso que a música me marcou. Certa vez, sem esperar, tive que recitar a letra numa formatura. O choro dos pais foi comovente.

Belchior a escreveu em 1976 em plena ditadura militar e faz uma crítica velada à censura. Paiva, esse meu amigo, depois de um gole de café e um bolinho de chuva na boca, leu o artigo e comentou que são poucos que ainda se incomodam com tantos descasos. “Apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.” E há aqueles que o medo o faz repensar nas atitudes que teriam. “Por isso cuidado meu bem / há perigo na esquina.” Entretanto, existem os que lutam por um futuro melhor. “Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem.”

Então, é neste contexto que esta música é especial, e deveria ser inspiração para os jovens encontrarem a verdadeira democracia perdida na memória de pessoas cuja liberdade é apenas um estado ancestral de agir segundo sua vontade.

- Miguel

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