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Entrevista Adriano Dias para alunos da UFF


Entrevista Adriano Dias para alunos da UFF

Carioca do subúrbio do Rio adotou a Baixada como um lugar de atuação militante e de sociabilidade. Tornou-se um militante pelos direitos é um dos fundadores da ComCausa.

| Entrevista para alunos da UFF em novembro de 2008

Como veio a ideia da ComCausa?

- Não foi uma ideia, foi um processo que envolveu muitas experiências, acertos, vitórias, mas também muitas frustrações e decepções. A vontade é que a instituição seja algo que vá para além das pessoas, um conceito. Hoje, por acaso, essa iniciativa se chama ComCausa, que foi na verdade o aglutinamento de ‘causas’ de vários anos. Esse processo ainda não acabou, a cada dia ele continua.

Continua como?

- A cada dia chegam questões novas, aprendizados, desafios... E, devido às bandeiras que assumimos, não existe a frase “isto nós não tratamos, pois somos uma entidade que só cuida deste ou daquele tema”, ainda mais na região da Baixada. Na maioria das vezes, se não abarcamos determinada luta, é por falta de pernas, braços... mas não nos faltam dedos.

Como assim, de dedos?

- Com o tempo fomos criando uma rede de relações muito legal, gente do bem nos movimentos sociais, no poder público, na imprensa... profissionais, militantes, gente comum. Às vezes alguns telefonemas e e-mails conseguem evitar a violações ou diminuir danos a direitos. Não é o ideal de atuação institucional, pois nem sempre dá certo, mas não dá para ficar contextualizando, ou ideologizar, filosofar com a pessoa que está sofrendo uma violência. Afinal, aprendemos neste tempo que na Baixada Fluminense o acesso aos direItos mais básicos são trágicos.

Você não acha que, desta forma, a ComCausa está fazendo a manutenção dos problemas?

- A diferença é que tentamos, na maioria das vezes, das questões pontuais, identificar os mecanismos onde os direItos daquela pessoa não estão sendo garantidos e tentamos intervir de alguma forma.

Só da pessoa?

- Não. Se acontece uma situação de violência gênero, contra a criança, homofóbica ou violência perpetrada por policiais, existe uma situação social sobre aquela questão que o Estado não garantiu os direitos dessas pessoas. Acontece que, depois do dano, principalmente na Baixada, esse Estado também não garante a justiça.

Então qual seria o ideal?

- O ideal é que não houvesse a necessidade de existir a ComCausa e tantas outras ONG’s. Se existem é porque o poder público - o principal operador e responsável pela garantia dos direitos humanos - não está cumprindo bem o seu papel. Em todas as violações de direitos existe um responsável. Daí procurar mecanismos para que a situação não se repita, seja através da reflexão para mudança de mentalidades, seja através de ações de exigibilidade... acreditamos ser a melhor maneira de atuar.

Você não está mais na direção da instituição. Qual é a sua função hoje?

- Não participo mais da instância administrativas por questões profissionais, mas sou responsável pela implementação das diretrizes políticas. Mas ficar um pouco afastado foi bom para a instituição... E para mim. Já me disseram que eu sou meio ‘pata de elefante’ para as questões políticas. Às vezes, parece-me que existe um entendimento que uma ONG da Baixada não pode tentar interferir nas questões conjunturais, devendo atuar de forma mansa, morna, inofensiva. Isso é uma impressão pessoal, mas muitas vezes esse meu posicionamento ficou associado à instituição, que tem, como princípio, exatamente a mediação. Por isso, procurei focar minha contribuição nas relações com as pessoas nos movimentos, nas ruas da Baixada. Hoje estou dedicado à construção e interlocução com redes - que é transversal ao projeto de comunicação da ComCausa - e o balcão de direitos que estamos implementando.

Como funciona o projeto de comunicação?

- A ComCausa acredita que as pessoas e as questões não podem ficar invisíveis, tem que ser postas à luz, à discussão. A invisibilidade pode levar a uma série de violências, até matá-las em vida.

Matá-las em vida, como?

- Temos interlocução com comunidades inteiras que parecem ser um grande cemitério de perspectivas. As pessoas morreram hoje para um futuro que deveria lhes pertencer. A falta de saúde, saneamento, trabalho - e até de respeito, de amor ao próximo - tirou-lhes a essência da luta por dias melhores, usurpou-lhes a noção dos direitos mais básicos. Isso é uma morte em vida. Quando vejo uma menina de 16 anos com dois, três filhos, sem estudar, sem trabalho, falando que “a vida é assim”, a impressão que tenho é que de alguma forma, acho que da maneira mais cruel, ela morreu em vida.

Quais são os planos da ComCausa para 2009?

- A ComCausa conseguiu aglutinar pessoas que se identificam com a sua forma de atuação plural, tratando temáticas específicas em sua relação com o todo. E, desde o segundo semestre do ano passado, deu um salto de qualidade, de atuação. Esse pessoal realmente fez com que as coisas fluíssem. Essa gente está assumindo papeis importantes na formulação e implementação de ações da instituição na - e para - a Baixada. Isso é muito bom. Pessoas com histórias pessoais e sociais totalmente diferentes atuando juntas e trazendo novas estratégias de enfretamento de questões já conhecidas... São estes que conduzirão a ComCausa em 2009.

#ComCausa | Novembro de 2008

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