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Vinte e três sem Dom Adriano


Vinte e três anos sem a maior referência dos direitos humanos da Baixada Fluminense, uma das inspirações para a criação da ComCausa. Desde 2009, realizamos mais de vinte atividades que teve como tema Dom Adriano, audiências públicas, exposição, cineclubes e muitos debates.

“Dom Adriano é uma das coisas boas da Baixada. É um de nossos heróis. Temos obrigação em mostrar, principalmente para os mais jovens, que a Baixada não é a do ‘mão branco’ nem do ‘homem da capa preta’, era do pastor que doou a vida pelos excluídos e violentados pelo Estado”, disse o fundador da ComCausa, Adriano Dias.

“Era o pastor que andava com suas ovelhas e era muito mais pelo que fazia do que pelo que falava mudou vidas”, segundo Gilney Viana, que coordenava o projeto Direito à Memória e Verdade da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República.

Conheça um pouco mais da história deste nosso herói da Baixada.

Dom Adriano Hypolito nasceu a 18-01-1918 em São Cristovão - Sergipe. Aos 14 anos entra para o Convento dos franciscanos. É ordenado padre em 18-10-1942 , em Salvador. No ano seguinte é nomeado professor do Seminário Franciscano de Ipuarana, Paraiba, permanecendo aí até julho de 1948. Neste ano parte para Europa em estudos para a história dos franciscanos no Brasil. Em abril de 1951 volta para o Seminário de Ipuarana, atuando como diretor de estudos e professor até 1961. Neste ano é transferido para o Convento Franciscano de Salvador, onde assume a função de visitador da província franciscana e presidente do Capitulo Provincial. Em novembro de 1962 é nomeado pelo Papa João XXIII, Bispo-auxiliar de Salvador. Participa do Concilio Vaticano II, em Roma entre 1963- 1965. Em 1966 é nomeado Bispo de Nova Iguaçu. Ao tomar posse propõe um trabalho pastoral que desse respostas aos problemas da Baixada.

Ex-militante político, Gilney Viana, assim como tantos outros, foi torturado e preso por dez anos durante o período opressor da ditadura militar. Gilney coordenava o projeto Direito à Memória e Verdade da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República. Giney faz referencia a Dom Adriano Hipólito, ex-Bipso de Nova Iguaçu, que o visitou na cadeia. Ele destaca também, a importância dos movimentos sociais da Baixada Fluminense, na resistência à repressão da ditadura e dos grupos de extermínio.

Dez anos após assumir o pastoreio na Diocese, Dom Adriano fora seqüestrado, espancado e abandonado, despido. De 22 de setembro de 1976, quando ocorrera o seqüestro, até hoje, ninguém foi processado, embora o jornal Movimento tenha denunciado um tenente da Vila Militar.As intimidações não cessam. O semanário litúrgico A Folha, de 29-05-77, foi falsificado aos milhares e distribuído nas igrejas da Baixada e enviada para várias partes do Brasil. No dia 19 de junho do mesmo ano, por determinação do Comandante do 1° Exército, foi cancelada uma conferência sobre Direitos Humanos, para constituição de uma Comissão de Justiça e Paz, que realizar–se–ia no Centro de Formação. E no sábado dia 18, elementos do Exército e da Polícia, procuraram repetidas vezes, o Centro de Formação sob os mais diversos pretextos e no domingo dia 19, cercaram e ocuparam o Centro de Formação, com verdadeiro aparato de guerra.

Bispo Dom Luciano fala na homenagem feita pela ComCausa.

Dom Adriano não se intimidou , em 12 de fevereiro de 1978, cria a Comissão de Justiça e Paz com a finalidade de “defender os Direitos Humanos à luz da fé; considerando que se faz necessária uma entidade que assuma na Baixada Fluminense de maneira estável esta missão de defender a Justiça e a Paz, ...”Em março de 1978, Dom Adriano fora seguido secretamente em suas visitas dentro da Diocese e nas visitas que fez a outros Bispos da região. Foi vigiado até mesmo de helicóptero, durante uma conferência para o clero de Volta Redonda. Em Abril do mesmo ano, Dom Adriano recebeu ameaças de novo sequestro e castigo exemplar. Da noite de 8 para 9 de Novembro de 1979 as igrejas de Santo Antônio da Prata, Catedral e Santa Rita, amanhecem pinchadas com injúrias contra Dom Adriano. A escalada do terror atinge a Catedral, a Igreja – Mãe da Diocese. No dia 20 de dezembro de 1979, uma bomba explode no altar da Catedral. Uma carta deixada na igreja acusa Dom Adriano de proteger comunistas. “quando apoiamos uma organização que não é da Igreja propriamente, mas luta por dias melhores para todos, como o Movimento Amigo de Bairro, nós estamos na linha de Jesus Cristo: nós temos compaixão do nosso Povo.” (sermão de Dom Adriano na missa após o atentado). Em 1993 Dom Adriano inaugura o Centro de Direitos Humanos, que continuou o magnífico trabalho da Comissão de Justiça e Paz. No ano seguinte, Dom Adriano aos 76 anos, deixa a direção da Diocese e assume a título pessoal a Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania (SODIHC) e eventual colaboração na Pastoral Diocesana. Dom Adriano faleceu no dia de São Lourenço, 10 de agosto de 1996.

Alessandro Molon na homenagem feita pela ComCausa, em 2010.

Quando o Imperador romano Valeriano exigiu de Lourenço os tesouros da Igreja, ele encheu o palácio de pobres, dizendo: “Eis o tesouro da Igreja”. Dom Adriano viveu realmente a opção pelos pobres. Concluímos com a saudação que Dom Adriano costumava fechar as grandes celebrações: “Viva Jesus Cristo... Viva Maria nossa Mãe Santíssima... Viva o nosso Povo sofrido da Baixada ”.

Representante do ministério da Cultura, TT Catalão, fala de Dom Adriano na sede da ComCausa, me 2009.

- O texto da extraído da página da página da Diocese de Nova Iguaçu de Nova Iguaçu. Ele é fruto de um estudo do historiador Antônio Lacerda de Meneses, do Arquivo da Cúria Diocesana.

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